De fininho, chegou o amor


Eu sei que não atendi o seu toque à campainha, fazia tempo que não abria a porta pra ninguém. Por isso nem me arrisquei. Queria ter a certeza de que ainda podia me proteger da vida, do que se passava aí fora. O aconchego de casa às vezes é o melhor refúgio. Mas eu não podia ficar aqui pra sempre. A vida aqui é monótona e, tenho que admitir, movimento faz falta.

Uma hora tive que sair do casulo, mesmo que as minhas asas não estivessem totalmente prontas. A vida da cidade grande não espera os ciclos naturais, e aí a gente acaba tendo que pisar no acelerador pra acompanhar o ritmo. Mas, para ser sincera, continuo lentinha no quesito amor, não estranhe a minha resistência para se aproximar.

Eu sei que vesti uma armadura e sem mais nem menos fugi das surpresas que o trilhar de cada dia reserva, mas aí você chegou, bem no dia em que fui descuidada e deixei a porta entreaberta. Você nem tocou mais campainha alguma, chegou de fininho e me disse: "Ei, você anda trancada demais aí dentro. Não quer sair um pouco?". E então, eu fui. E da melhor maneira possível, com você.

Eu sei que a minha tendência dramática e exagerada te faz enlouquecer e que, às vezes, meu humor muda mais rápido do que qualquer ser em seu juízo normal consegue acompanhar, mas obrigada por se manter aqui, comigo. Até eu que não queria imprevisto nenhum, acabei surpreendida por você. Você tinha razão, até que tenho muita sorte de estar aqui, bem onde estou.

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