Virada no tempo
Quem nunca quis voltar no tempo? Quem nunca alimentou a fantasia de conhecer algo que existiu antes de si? Às vezes a gente tem a impressão de que nasceu na época errada, não é mesmo? É exatamente assim que Gil Pender, protagonista de Meia-noite em Paris, se sente. Um personagem ávido em busca de inspiração para escrever seu próprio romance, Gil mostra-se fascinado pelos anos 20 quando visita a famosa cidade de Paris com sua noiva. O que ele só descobre mais tarde é que as badalas que anunciavam a virada de um dia são as mesmas que abrem as portas para a sua tão sonhada "Idade de Ouro".
O filme conta com o charme irresistível da cidade e cultura francesas, retratando artistas e pessoas ilustres que enriqueceram a história com suas obras (já deixo aqui minha afeição por O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald que, apesar de eu ainda só ter visto o filme com Leonardo DiCaprio, prometo ler o livro de tão cativante que é a história). São muitas referências, menções e mensagens que proporcionam a Gil conhecer pessoas que tanto admira.
Contudo, a fuga para o passado nem sempre é a melhor escolha. O presente é vívido por não poder ser moldado, por ainda estar em movimento e em constante renovação. Mesmo que por vezes insatisfatório, só podemos viver de fato o que acontece agora. O que pude compreender, com Woody Allen, é que não se pode viajar para sempre no tempo, mas é sempre possível tirar umas boas lições do que passou. Agora, vamos a algumas de minhas passagens favoritas:
"Nostalgia é negação. Negação do presente doloroso. E esta falácia é chamada de pensamento da Era de Ouro, a noção errada de que uma época diferente é melhor do que aquela em que vivemos. É uma falha da imaginação romântica de quem tem dificuldade em enfrentar o presente."- apesar de ser uma fala de um personagem bem arrogante, certamente me tocou. Isso nos alerta para a preciosidade do agora e para os perigos que fugir da realidade nos traz.
"Nenhum tema é ruim se a história é verdadeira. E se a prosa é limpa e honesta. E se ela confirma a coragem e graça sob pressão."- um dos conselhos que Hemingway, escritor norte-americano, dá a Gil sobre escrever sua própria obra.
"Nunca escreverá bem se tiver medo de morrer. É algo que todos fizeram antes de você e todos farão. Um amor verdadeiro e real cria uma trégua da morte. Toda covardia vem de não amar ou não amar bem, o que dá na mesma. Quando um homem corajoso e verdadeiro olha a morte de frente é porque ele ama com paixão suficiente para esquecer a morte até ela retornar, como faz com todos os homens."- mais um pouco das sábia palavras de Hemingway. Já foi o suficiente para me encantar, mas ainda tem mais.
"Todos temem a morte e questionam seu lugar no universo. A função do artista não é sucumbir ao desespero, mas sim encontrar um antídoto para o vazio da existência."- as palavras da vez foram proferidas por Gertrude Stein, escritora, poeta e ativista feminista.
"O presente é assim. Um pouco insatisfatório porque a vida é um pouco insatisfatória."- fala do próprio Gil quando se dá conta de que não há um antídoto para a vontade de viajar no tempo, mas que alimentar a ilusão de que seria mais feliz em outra época não o fará construir uma história verdadeira.
Para conhecer melhor alguns dos artistas ilustres, vale a pena ler: http://www.blog.365filmes.com.br/2015/06/Conheca-os-personagens-historicos-de-Meia-Noite-em-Paris.html
Um beijo direto da Era de Ouro que é viver o agora, Ana Carla Longo!
Até! 💕
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